Carta aberta de Patrick Dias da Cunha

Recebemos um e-mail do nosso conterrâneo Patrick Dias da Cunha com a seguinte carta aberta aos leitores deste blog. Um acto de cidadania que nos pediu que publicássemos. "Por São Martinho Gosto muito da nossa terra, da beleza natural que nos rodeia, dos nossos petiscos e, sobretudo, da nossa gente, gente boa, gente honesta e trabalhadora, civilizada, gente frontal que nos olha nos olhos e não esconde o que pensa, mas que também sabe apreciar o lado descontraído da vida, gente que gosta de brincar e de oferecer uma rodada aos seus amigos. É bom estar em São Martinho. Eu gosto, muito. Em tempos, disseram-me que, de vez em quando, algumas gentes de São Martinho mudam este seu comportamento de gente civilizada. Disseram-me que isso acontece de quatro em quatro anos, e que essa mudança quase esquizofrénica de personalidade dura cerca de um a dois meses. Pois é verdade, em tempos disseram-me que alguns fregueses vivem as campanhas eleitorais como se estivessem a assistir a um jogo de futebol entre duas equipas rivais, chamando nomes a tudo o que não é da sua cor clubística. Na altura, não acreditei, ou melhor, achei que era um exagero, que a nossa gente era, sem excepção, gente civilizada, que conhece as regras do jogo democrático e que as respeita. Sei o que o futebol faz às pessoas, como é capaz de transformar gente civilizada em gente bárbara, em autênticos energúmenos. Sei, porque o senti na pele, que a camada de civilização que temos por cima do nosso ser animal é muito fina e que, em algumas pessoas, o verniz civilizacional estala com grande facilidade. O que, então, fica exposto aos olhos de todos é a nossa essência animal, que é muito feia. Sei porque senti na pele o que é estar num estádio de futebol, com uma filha ao meu lado, e ouvir cinco mil pessoas, muitas delas de fato e gravata, a chamar nomes ao meu pai. Foi uma lição de vida, que me tornou ainda mais forte e que nos levou, a mim e à minha filha, a fazer uma promessa: "Nós não vamos nunca ser como eles.". Por isso, aqui fica o meu apoio solidário ao João Pedro, à sua mulher Regina e às filhas Carolina e Joana. Os insultos de que o João Pedro foi alvo não são dignos do seu sofrimento. Por duas razões muito simples: primeiro, porque nenhum insulto é digno do nosso sofrimento, nunca, em circunstância alguma; e segundo, porque foram feitos a coberto do anonimato e o anónimo não existe e, como tal, merece apenas uma única resposta, a nossa indiferença. Termino, fazendo um apelo a todos os que estão envolvidos nesta campanha, tanto à esquerda como à direita, em cima ou em baixo, do Sporting, do Benfica, do Porto ou da Académica: "Não vamos nunca ser como eles." Não vamos ser como aqueles que num estádio de futebol, escondidos por detrás da máscara cobarde do anonimato, chamam nomes a tudo o que não é da sua cor. Vamos, sim, lutar pelas nossas convicções, vamos fazê-lo com energia, mas vamos fazê-lo como os São Martinhenses sempre o souberam fazer, com frontalidade, olhos nos olhos, e, sobretudo, com dignidade e respeito, respeito por todos os que estão envolvidos nesta campanha, mesmo que não defendam as mesmas ideias que nós. Vamos fazê-lo todos em conjunto, pela nossa terra, por São Martinho. Patrick Dias da Cunha"

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