sexta-feira, 8 de abril de 2011

Homenagem póstuma a um Freixo, por António Matos

"Em 09 de Março 2011 foi abatido um freixo centenário que já não devia saber a idade, a pretexto de se fazerem os passeios contíguos à Estrada da Beira, em S. Martinho da Cortiça.
Acharam os entendidos, os pensantes, que a coabitação da referida árvore era incompatível com o passeio e daí a sua sentença de morte.

Conheci este freixo e outros dois existentes num raio de cerca de 100 metros, todos da mesma geração, conheci-o quando há 51 anos passei por ele pela primeira vez a caminho da Escola, e todos os dias o via imponente, majestoso; e todos os dias no regresso a casa tentava contar e recontar os ninhos de aves existentes nas suas ramagens, sem chegar a um número exacto.
Freixo amigo, quantas crianças viste passar pela primeira vez para a escola?, quantas pessoas passaram por ti pela última vez a caminho da última morada no cemitério?, a quantas festas e romarias e procissões assististe?, quantos bêbados e zaragatas tiveste que presenciar?, quantos à tua sombra se esconderam do sol tórrido do verão?, quantos milhões de carros, carrinhos, camiões e outros que tais te passaram ao lado com os seus motores bramindo, lançando fumos e gases que haverias de transformar outra vez em oxigénio? Já não te lembrarias, já lhes devias ter perdido o conto.

Mas fizeste o teu papel, aguentaste firme, contra ciclones, tempestades, poluições e outros males que nos atormentam e sempre com altivez; só não conseguiste vencer os que de serra em punho te mataram. Mas até na morte foste valente, morreste de pé, como morrem os heróis."

Autor: António Matos, Cortiça